O Suga Alma

Seu João do Bernado, um simples lavrador agregado na fazenda do senhor Antônio Buriti ali pelas bandas da vizinhança da Prata, mais do que ninguém gostava de uma boa caçada! E sempre quando retornava tinha uma boa história para contar durante as rodas de conversa da pionada na fazenda, enquanto fazia se o quilo da hora do almoço.

Após enrolar um porronca feito de lapas de fumo de rolo, enroladas na palha de milho cortados com o velho canivete de cabo de osso envernizado, ganhado do seu pai já falecido; dar três tragadas e bebe um gole de café amargo torrado e moído por ele mesmo, seu João conta sobre uma visagem acontecida durante uma noite de caçada, quando estava a esperar na beira de uma grota em uma seva de paca.

Naquela noite, enquanto aguardava pela caça acocarada na varrida próximo da grota do prata percebeu estranhos movimentos nas ondulações do ir e vir d‟água, que antes permanecia imóvel.

O mais estranho é que por mais que olhasse naquela direção nada havia ali! Desistindo da espera, já com a lua cheia alta, refletida nas águas no meio da grota, seu João vê um vulto esfumaçado pairando por ali, como se bebesse na fonte, ouvia pingos d‟água cair lentamente e ondas largas se formavam da beira até o meio, indo de encontro à lua dentro da grota.

Curioso, vagarosamente aproximou-se cada vez mais e percebeu que algo saía da água; mas o que seria?

Teve a mesma sensação muitas vezes que algo emergia e imergia, porém nada via!

Então olhando de costas pelo espelho refletindo a imagem das águas, percebeu dois olhos fixos, olhando diretamente para ele.

Nesse momento, sentiu que as pernas lhe faltavam, a voz não saia! As mãos tremiam mais que vara verde, sem condições nenhuma para puxar o gatilho da porfora! Os olhos enluarados sequer batiam pestanas, assim lentamente a imagem do suga alma ia se apagando das águas da velha grota só assim seu João afirma ter sentido sua alma retornar ao seu corpo, desaparecendo o frio gelado que sentia, devido o zumbido do vento nos seus ouvidos.