Nonatinho

Rememorando uma história de quando menino, o professor Adelmar Borges conta que escutava sua avó lhe contar a história de uma senhora que não tinha filhos, embora desejasse muito:

– Um dia, sem pensar, esta senhora esbravejou que queria ter filhos ainda que fosse um bicho. E assim meu avó contava que a pobre deu à luz a duas cobras que ao nascerem correram pra dentro das águas do rio Araguaia.

– Lá cresceram. A cobra macho recebeu o nome de Nonatinho, e a cobra fêmea, uma serpente má, conhecida por Cobra Grande.

– As duas cobras eram muito diferentes, tanto que quando cresceram se separaram e foram morar em rios diferentes.

– Nonatinho morava no rio Araguaia, viajava da coluna do Itaboca ao Turicuriu, antigamente Ancobaça, na Conceição do Araguaia.

– Já a Cobra Grande morava e atacava os viajantes do rio Tocantins.

– Nonatinho, ao contrário de sua irmã, não fazia mal a ninguém. Nas noites de festa, largava sua casca de cobra e se transformava em um rapaz belíssimo.

– Minha avó contava que dançou muitas vezes com ele nos bailes daquela época.

– Nonatinho tinha um grande desejo de se tornar cristão, mas para que seu desejo se tornasse realidade, era preciso que alguém ateasse fogo na sua casca de cobra enquanto estivesse transformado em gente.

– Um dia, tomado pela fúria, ao saber das maldades que sua irmã Cobra Grande vinha cometendo com os viajantes nas águas do rio Tocantins, Nonatinho se propôs perseguir em forma de uma cobra e por fim nas maldades da sua irmã.

– Transformado em cobra, viajou pelo rio Araguaia. Chegando ao rio Tocantins convocou os botos e partiram para cima da cobra grande. Foram três dias e três noites de luta sem trégua até que conseguiram acabar com a Cobra Grande.

– Dizem que as águas do rio Tocantins são mais barrentas que as águas do rio Araguaia por causa desta luta. É o resultado da luta entre as duas grandes serpentes e os botos, uma mistura de sangue e lama.

– Enfim, Nonatinho voltou para o Araguaia e continuou com o desejo de se tornar ser um cristão como os outros na terra.

– Um dia, um amigo com o coração tomado de compaixão, decidiu prestar-lhe este favor e tomou nas mãos um tambor cheio de gasolina e partiu para as margens do rio Araguaia.

– Ao chegar na margem do rio, tamanho foi o susto do rapaz que ficou com as pernas bambas diante do tamanho da casca da cobra que era o Nonatinho. Era tão grande que o latão de vinte litros de gasolina quase não deu para molhar a toda a casca.

Ateou o fogo e tamanha foi a explosão que o rapaz foi atirado tão alto que se não tivesse algo para amortecer a sua queda, teria se arrebentado no chão. Para sua sorte, Nonatinho agora cristão, amparara o amigo, a quem agradeceu por sua bravura e ato de amizade, que o livrou da maldição que tanto o incomodava.