Adelmar Borges
O Professor Adelmar Borges, entre uma poesia e outra, nos conta uma versão do Nego Veio que foi um vaqueiro de origem afro. Conta que ele sofreu um acidente que ficou marcado na história da região.
– Nego Veio, foi um peão que não negava suas origens afras. Sua pele conservava, além das marcas do sol da dura lida diária, a cor negra. Seus dentes eram brancos, os beiços largos e na cabeça além da calvície escondida pelo chapéu de couro revelavam os duros anos de experiência na sua profissão de vaqueiro.
– Nego Veio era um peão muito afamado por não perder de vista o boi que recebia para amansar.
Segundo Adelmar, Nego Veio sempre dizia:
– Onde quer que seja que o boi ponha a pata, o casco do meu cavalo vai atrás.
– Mas, num fatídico dia, Nego Veio estava escalado para ajudar a tocar uma boiada pelos talhados das serras de Araguatins. _
Nego Velho como de costume levantou cedo, bebeu um gole de café preto bem amargoso, fez um pito de palha de milho com fumo de rolo cortado com um canivete do cabo de osso de boi. Acendeu o cigarro com a binga de querosene, jogou milho para as galinhas no terreiro, chamou os cachorros e com o dia ainda meio truvo saiu para o piquete para pegar seu cavalo Baio. _
Baio foi um cavalo bom de lida que assim como seu dono fez por merecer ter sua memória lembrada nesta cidade.
– Mais tarde já no curral com o cavalo arriado junto aos outros peões e o gado no jeito pronto para seguir viagem por aqueles pirambal7 sem fronteiras de talhados de serra onde a cerca são os penhascos e despenhadeiros.
– Tudo ia bem até que o gado que iam tocando se encontrou com uma boiada selvagem criada na larga. As reis8em arribada se misturaram tudo. Ninguém sabia quem era quem. Houve um estouro da boiada e cada peão seguiu para um lado atrás de uma reis desgarrada.
– Nego Veio acunhou as esporas no Baio que saiu feito raio rasgando a serra, mas naquele momento, aquele planalto de chão firme lhe faltou as patas do Baio. _
Em disparada, correndo sem rumo, o boi mergulhou do taidão de mais ou menos duzentos metros de altura, seguido pelo cavalo Baio e em seu lombo montado Nego Velho fazia valer o seu dizer:
– Onde quer que seja que o boi ponha a pata, o casco do meu cavalo vai atrás.
-Nos últimos momentos, Nego Veio vendo sua vida passar como um relâmpago pelos seus olhos viu um grande clarão. Uma luz inexplicável apareceu a sua frente, e a poucos metros de se chocar com os rochedos e as águas em corredeiras do rio Araguaia, Nego Veio chamou pela imagem de um santo que segundo ele estava presente na luz. E como que por milagre algo lhe amparou.
– Mais tarde quando a peonada começou a se reunir, deram por falta do amigo. Saiu à sua procura, seguindo as últimas pegadas do boi e do Baio cravadas na terra. Os peões em ato de respeito tiravam o chapéu da cabeça na medida em que iam se aproximando do despenhadeiro.
– Sem esperanças de encontrar Nego Veio com vida, a peonada arrodearam a serra. E para surpresa de todos encontraram Nego Velho choroso pela perda de seu cavalo Baio.
– Meses depois do ocorrido, afogado em profunda tristeza e sem exercer sua profissão, alguém encontrou o corpo do Nego Veio sem vida, largado pelo chão do pasto.
– Contam até hoje que naquela região de Araguatins, conhecida por Nego Veio, devido ao acidente ocorrido, durante a madrugada se escuta mugidos do boi, relinchos e galopes do Baio, e gritos do Nego Veio, na lida com os bichos.
Pessoas que visitam a região do Nego Vieram, mesmo durante o dia, sentem arrepios e calafrios. Dizem que é um lugar tenebroso e místico.
Lucinalva Ferreira, Davino Pereira Lima Júnior, Osmar Dantas, Agna da Silva Gomes Santos, Sirleide Lopes Martins Dantas, Laiany Paulino de Queiroz, Vitória Maria Tavares Lima, Luemily Karine Saraiva de Sousa, Juliana Déborah Oliveira da Silva, Laila Jaqueline Santos Claudiano, Ana Paula Oliveira Borges, Andressa Silvino de Sousa, Letticya Silvestre Carvalho.