A Porteira Mal Assombrada

 João do Bernaldo 

Naquele tempo era comum enterrar os falecidos da família nas próprias terras onde moravam. Conta seu João que pras bandas da Pedra de Amolar, ali próximo às terras da dona Miriam e Dr. Sergio, ouviu-se dizer que por aquele meio havia uma porteira mal assombrada devido a quantidade de sepultamentos de uma mesma família que havia sido feita na propriedade; muitos acreditavam que não era prudente passar por ela após o horário das 18h.

Certo dia, informado do falecimento da esposa do seu Dito, já passado dias do velório, recebeu um aviso do amigo que fosse buscar uma mala de roupa doada para vestir seus meninos; naquela época seu João passava muita precisão com sua família, era um homem de poucas posses.

Arreou o cavalo e mandou que o filho mais velho fosse até lá receber a doação dos padrinhos, o menino partiu cedo! Bebeu uma caneca de leite com café tirado com muita espuma do peito da vaca pratinha e peitou no mundo.

No caminho devido ao tempo chuvoso, o córrego encheu, transbordando a água por cima da ponte, atrasando a viagem. Chegou ao seu destino já passado da hora do almoço.

O menino como sempre foi bem recebido, fartou-se de comida, levando uma vasilha cheia de broa de fubá para sua mãe que estava de resguardo da sua irmã mais nova, a Lucinda.

Após dar água ao cavalo e novamente arreá-lo, com a ajuda do senhor Dito pôs os sacos de roupas e cobertas atrelados por cima do arreio, amarrou a matula de broa e fubá no arreio, despediu-se dos padrinhos e seguiu viagem a caminho de casa.

Já estava tarde, quase escurecendo! Chegando próximo a porteira, foi tomado por um frio que fazia-lhe bater os queixos, o cavalo negava-se de encostar na porteira para abrila o engate do moirão; descer não podia, de tanto medo! Começou então a chorar e a rezar o creio em Deus pai… E a pedir à finada que o deixasse passar. De repente porteira abriu sozinha, escancarando para trás! O menino ouviu claramente uma voz sussurrar ao seu ouvido e dizer: – Passe logo que vou fechar. O cavalo como se levasse uma açoitada, deu um pinote e correu… O menino jura ter sentido alguém segurar no seu carcanhar arrancando-lhe um pé de botina. O miúdo chegou em casa tão amarelo que mal conseguia falar. No dia seguinte o pai, seu João foi até a porteira para verificar se não havia ficado aberta, mas não! O que encontrou foi o pé de botina encima do moirão.

Em sinal de respeito, seu João tirou o chapéu da cabeça e benzeu-se, pegou a botina do filho, deixando no lugar uma vela acesa para iluminar o caminho da alma da finada comadre.

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Lucinalva Ferreira, Davino Pereira Lima Júnior, Osmar Dantas, Agna da Silva Gomes Santos, Sirleide Lopes Martins Dantas, Laiany Paulino de Queiroz, Vitória Maria Tavares Lima,  Luemily Karine Saraiva de Sousa, Juliana Déborah Oliveira da Silva, Laila Jaqueline Santos Claudiano, Ana Paula Oliveira Borges, Andressa Silvino de Sousa, Letticya Silvestre Carvalho.