A Onça que Falou

Por Adelmar Borges

Antigamente existiam muitas caças nas matas, no cerrado tocantinense.

Vendo tamanha fartura, os caçadores desperdiçavam, exterminando sem compaixão a fauna local.

– Em meados de 1846, caçadores que viviam da prática predatória dos animais silvestres, unicamente para extração e venda do couro, afirmam que algumas vezes, antes do sacrifício do animal, ouviam os bichos falar.

E como uma história leva a outra, o professor Adelmar faz uma pausa na história para contar outra:

– Dizem que os índios quando ficavam bem velhinhos, se transformavam em animais e abandonavam suas tribos, indo morar sozinhos na mata, vagando por ela até os últimos dias de sua vida.

E retoma a primeira história:

– O senhor Sebastião Corrêa, um caçador que vivia da comercialização de pele de animais silvestres, contou numa roda de conversa, que há meses tentava caçar, mas não conseguia. Era como se as caças fugissem dele.

Os caçadores tinham por hábito matar os bichos, tirar a pele e arrancar o couro. As carnes eram deixadas no local do abate. Daí, outros predadores aproveitavam da fartura sem muito trabalho. Foi assim que uma onça muito esperta vinha se alimentando na mata.

– Sevada na comida fácil começou a seguir o senhor Sebastião Corrêa. Enquanto ele caçava, a onça ficava ao seu redor esperando pela carne. Os outros animais ao perceberem sua presença se afugentavam do caçador.

– Certo dia lá para as bandas de São Martinho, Sebastião Corrêa levou seus cachorros na caçada. E a cachorrada percebendo a presença da onça, acunharam na batida dela mata adentro. Ao se sentir coagida, a onça subiu em um pequizeiro aos urros.

– O caçador, no rastro de seus cachorros pela chapada, se assustou ao se deparar com aquele felino enorme encima da árvore.E não pensou duas vezes, puxou um 44 papo amarelo que andava a tira colo, e do seu mocó um canela de jacamim.

– Ao apunhar na direção da onça, ficou de queixo caído ao ouvir a onça dizer:

– Se você atirar e errar, eu pulo em cima de você.

– O caçador, sem ação no momento perguntou a onça:

– O que é você?

– A onça, mirando-lhe um bote certeiro, respondeu:

– Sou uma velha índia que vaga por estas matas, vivendo meus últimos dias nesta forma de vida. Mas enquanto existo procuro o que comer e beber, enquanto você caçador só mata e desperdiça.

– O caçador fitando bem nos olhos da velha índia em forma de onça, sentiu pela primeira vez em seu coração um pouco de compaixão e respondeu:

– Você caça e come para viver. Eu caço e vendo para sobreviver. E você está me atrapalhando, enquanto me ronda espanta as caças, nem eu, nem você pegamos nada a não ser um ao outro.

– Então vamos fazer um trato. Disse o caçador.

– Assim como tem poupado minha vida, vou poupar também a sua. Mas terá de ir embora dessas matas, vá para o outro lado do rio Araguaia, e eu não caçarei por lá. _

E assim sucedeu, o caçador permaneceu no Tocantins e a onça atravessou o rio a nado para o Pará.

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Lucinalva Ferreira, Davino Pereira Lima Júnior, Osmar Dantas, Agna da Silva Gomes Santos, Sirleide Lopes Martins Dantas, Lainay Paulino de Queiroz, Luemily Karine Saraiva de Sousa, Juliana Déborah Oliveira da Silva, Laila Jaqueline Santos Claudiano, Ana Paula Oliveira Borges, Andressa Silvino de Sousa, Letticya Silvestre Carvalho.