A mãe do ouro

 João do Bernaldo 

O senhor João Bernaldo conta que quando era criança, em meados de 1946, ouvia muitas histórias contadas pelos adultos. Ele diz que durante as noites em que se reuniam na vizinhança e nos mutirões, cresceu ouvindo histórias de assombração referentes a uma tal de mãe do ouro que carregava crianças nas fazendas.

– As histórias eram contadas com tanta perfeição que nós, meninos bobos e inocentes, acreditávamos como se fossem realidade. Os anos se passaram:

– Nós havíamos nos mudado recentemente da fazenda da jibóia, no antigo Goiás para o Tocantins hoje. Meu patrão teria comprado uma grande área de terra e estava preparando novas pastagens para o gado. O trator estava fazendo uma grande derrubada e o terreno pedregoso fez com que uma peça do trator se quebrasse.

– Como o conserto demorou muito, atrasando o serviço, então decidi trabalhar até tarde da noite para que assim recuperasse o tempo perdido.

– Meu patrão logo avisou que não trabalhava no mato durante a noite, pois tinha medo de alma desencarnada.

– Eu, tratorista acostumado à dura jornada dia e noite, noite e dia, olhei bem para o senhor Dimar e sorri para ele, mostrando minha dentadura de ouro.

– Agasalhei a peça no trator, e recomecei meu serviço. A noite chegou depressa e junto com ela, a fome. Já era tarde quando desliguei o trator e peguei o caminho rumo a sede da fazenda.

– A noite estava um breu só. Ao me aproximar, os cachorros me estranharam e vieram ao meu encontro na porteira, fazendo com que eu subisse depressa no moirão esticador de aroeira.

– Comecei então a gritar: – Seu Dimar. _ Até que ele respondeu, pegou a lanterna e veio ao meu encontro, iluminando o caminho. Já meio perto ele gritou:

– Ô peão! _ E eu cá na frente, em cima do moirão de aroeira da porteira, respondi bem alto já com a voz rouca quase sumida cansada de tanto gritar por ele:

Aqui, venha ao meu encontro, seu Dimar!

– Justo nesse momento a luz da lanterna bateu na minha dentadura, e os meus dentes de ouro refletiram a luz da lanterna. Nessa hora o homem saiu gritando:

– É a mãe do ouro! Ela veio me pegar!

– Eu, sem entender nada, corri atrás dele e ele não parava de correr apavorado e esbravejando ter visto a Mãe do Ouro. Eu mais corria era fugindo de medo dos cachorros.

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